Durante a abertura da 36ª Edição do APAS Show, em São Paulo, nesta segunda-feira (16), o presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou novamente o processo eleitoral em dúvida e disse ser necessário o “voto auditável”.
“Agora tá trazendo mais gente, mais gente inclusive responsável pelo processo eleitoral. Que bateu na mesa: tá certo, o candidato que duvidar eu casso o registro e mando prender. Que por** é essa? Que Brasil é esse? Que democracia é essa?”, disse Bolsonaro.
“Ouvi o “nine” falando que eu vou perder a eleição e vão prender minha família toda. Tá achando que vai me intimidar dando recado? Ou nós decidimos no voto pra valer, contabilizado, auditado, ou a gente se entrega. E se se entregar, vocês vão levar 50 anos ou mais para voltar à situação que está hoje em dia”, complementou o presidente, se referindo ao ex-presidente Lula (PT), mas sem citar seu nome.
O presidente da República também teceu críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ter rejeitado observações das Forças Armadas para as eleições 2022.
“A alma da democracia é o voto. O TSE convida as Forças Armadas a participar do processo. As Forças Armadas levantam mais de 600 vulnerabilidades. (…) Fazem seu trabalho, apresentam sugestões. Não valem as sugestões… Democracia, eleições, quanto mais transparente for, melhor”, afirmou.
O evento, realizado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS), é uma feira de alimentos e bebidas, conhecido por ser “o maior evento supermercadista do mundo”. Aos empresários do setor, Bolsonaro disse que foram “excepcionais nessa pandemia, mas tudo pode acontecer”.
“Podemos ter uma nova crise, eleições conturbadas… Imagina acabarmos as eleições e pairar para um lado ou para o outro a suspeição que elas não foram limpas… não queremos isso. Vocês sabem o que o Brasil precisa”, destacou.
A reportagem entrou em contato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para comentar as declarações do presidente e aguarda retorno.
AI-5
Durante o evento, Jair Bolsonaro voltou a comentar sobre pessoas que pedem a volta do AI-5, o artigo mais rígido da ditadura civil-militar.
“O que tentaram nos roubar em 64, tentam nos roubar agora. Lá trás pelas armas, hoje, pelas canetas. Liberdade de expressão… Outro dia falaram pra mim: olha, e quem levanta uma faixa de AI-5? Você tem que ter pena desse cara, não tem que prender não, tem que ter pena dele”, ponderou.
“Ele nem sabe o que é AI-5. Aí quem levanta a faixinha “artigo 142″… pergunta pra ele o que é artigo 142. Muita gente não sabe. Assim como quando a esquerdalha (sic) me chama de fascista, não sabe o que é ser fascista. Mas eu entendo tudo isso como liberdade de expressão”, adicionou.
Marco temporal
Outra crítica feita pelo presidente da República foi sobre a demarcação de terras indígenas e a votação sobre o “marco temporal” no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando que, se aprovado, “mais uma área do tamanho de São Paulo” seria “inviabilizada para o agronegócio”.
“O que sobra pra mim se o Supremo aprovar isso daí? Eu tenho que pegar a chave da Presidência e entregar lá no Supremo. Ou falar que não vou cumprir. O que eu faço? Isso não é minha vida, é de vocês todos”, destacou.
O projeto em análise na Corte faria com que, na prática, povos originários tenham direito a reivindicar apenas terras já ocupadas antes da Constituição de 1988.
A reportagem procurou o STF, que respondeu que não comentaria a declaração.
“Eleições limpas”
A fala de Bolsonaro vem um dia após o presidente ter dito que acredita que as eleições serão “limpas”.
“Se ele tem certeza disso, por que criar tanto óbice para aquelas instituições que ele convidou participem mais nesse processo? Tenho certeza de que as eleições serão limpas. Mas têm dúvidas ainda que devem ser esclarecidas. Nós, homens públicos, não somos donos da verdade”, disse o presidente neste domingo (15), em resposta às declarações do ministro Alexandre de Moraes.
CNN Brasil