Poliomielite: Queiroga reconhece queda vacinal, mas diz que problema é global

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No Dia Nacional da Vacinação, celebrado na segunda-feira (17/10), o Ministério da Saúde anunciou ter conseguido imunizar, até agora, 65,6% do público alvo, em todo o país, com as campanhas de imunização contra a poliomielite e de multivacinação — que abrange vacinas contra hepatites A e B, tríplice viral e tetraviral, pneumonia, meningite e otite, rotavírus, meningocócica C, febre amarela, tríplice bacteriana, HPV, varicela e meningocócica ACWY. Entre as crianças com menos de um ano apenas 44,8% foram vacinadas. As porcentagens ficaram bem abaixo da meta vislumbrada pela pasta, que é de 95%.

A campanha do ministério está em vigor há dois meses e teve o prazo final prorrogado para que não terminasse com metade da porcentagem anunciada ontem. A estimativa era de que fossem vacinadas contra a poliomielite 115 milhões de crianças. Mas, de acordo com o Secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, até o momento somente o estado da Paraíba ultrapassou a meta, com 95,09% de vacinados. O Amapá seguiu pelo mesmo caminho, com o segundo índice mais alto, 90,8%. Enquanto isso, Roraima está com a menor taxa de adesão à vacina, com 31,12%, seguida do Acre, com 35,64%.

“Nós temos na Região Amazônica grande dificuldade de logística de levar vacina para muitas comunidades. Isso pode impactar na distribuição e capilaridade das próprias vacinas”, ponderou o médico infectologista Hemerson Luz.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez um apelo para que os pais levem os filhos para vacinar. E relacionou o baixo resultado da campanha a um problema mundial e à falta de vivência dos pais sobre os riscos do retorno da poliomielite. “A queda das coberturas vacinais acontece em todo o mundo, não só no Brasil. Em parte, se deve ao fato de as pessoas não se lembrarem o que representam doenças como a poliomielite. Os pais jovens de hoje não sabem o impacto que tem a poliomielite, então temos que continuar alertando para que tragam as crianças para as salas de vacinação”, justificou.

Entre outros motivos, o ministro responsabilizou a pandemia, cujo reflexo foi o fechamento de escolas, pela diminuição da adesão à vacina. Segundo ele, o ministério foi quem tomou “medidas mais efetivas” para convencer a população a se vacinar sem “forçar”.

“É inaceitável que, em pleno século 21, tenhamos sofrimento de nossas crianças com doenças que já estão erradicadas há muito tempo. Desde 7 de agosto, temos feito um apelo a toda a nação brasileira para levar as crianças com menos de cinco anos para completar o esquema vacinal da pólio, e a meta é atingir 95% das cerca de 115 milhões de crianças que são aptas a receber essas vacinas”, declarou.

Mudança de postura

Socorro Gross, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), entidade que é parceira do Brasil na aquisição de insumos relacionados à saúde, enfatizou a mudança de postura do ministério em relação à vacinação. Também elogiou o esforço para atingir a meta de imunização, ressaltando que o ato de se vacinar é um direito da população. “Toda pessoa tem o direito, mas também a responsabilidade de vacinar as crianças. A vacinação protege coletivamente o país. Não temos como atingir a vacinação se a comunidade não acredita”, afirmou Gross.

Marcelo Queiroga ponderou que o trabalho de cobertura vacinal deve ser feito em conjunto com a rede de segurança de vigilância em saúde e com os países vizinhos. “Porque só estaremos seguros quando todos estiverem seguros”, declarou. Além disso, ele vinculou os índices da cobertura vacinal às andanças que tem feito pelas unidades federativas para enfatizar a importância da imunização.

“Eu tenho andado de maneira incansável, às vezes saem matérias jornalísticas dizendo que eu uso muito o avião da FAB, mas também ando a cavalo. Como fui na cidade de São José da Lagoa Tapada para vacinar crianças, como símbolo do nosso esforço, como símbolo de quem ocupa a principal posição do sistema de saúde do Brasil, para honrar a nossa tradição, para dar o exemplo”, salientou o ministro.

Linguagem

O infectologista Hemerson Luz afirma que não adianta ter um plano de vacinação modelo se a população não está engajada. Segundo o especialista, há falta de atenção do ministério em relação à linguagem utilizada nas campanhas.

“Eu acho que apesar das campanhas do Dia D, de colocar as cadernetas em dia, ainda não são suficientes para alcançar a população que está faltando. Talvez tenha que mudar a linguagem, usar mais redes sociais, usar uma linguagem mais moderna, focar naquelas regiões e populações que estão precisando. Tem que ter uma linguagem para o jovem que toma a vacina de HPV, uma outra para mostrar aos pais que é importante a vacinação, e assim vai”, explicou Luz.

Para ele, o discurso antivacina atrapalhou, mas não chegou a impactar a cultura vacinal existente no Brasil. “O que tem que ser feito é reforçar, fazer campanhas fortes, assim a cultura vacinal pode ser resgatada. A população relaxou porque está menos exposta ao risco ou porque acha que ele é menor pela pandemia ter esfriado, mas temos que quebrar isso com uma campanha educacional bem colocada e bem feita”, defendeu.

Correio Braziliense

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