Péricles Cardoso de Melo, pastor acusado de aplicar golpe de cerca de R$ 3 milhões contra fiéis em uma igreja de João Pessoa, passa por audiência de instrução, nesta quarta-feira (13), no Fórum de Mangabeira. Em 22 de setembro, o pastor teve a prisão preventiva decretada após pedido do Ministério Público da Paraíba. Ele responde por estelionato.
De acordo com as investigações, mais de 30 vítimas dos golpes aplicados pelo pastor foram identificadas no inquérito. A própria congregação onde ele era pastor também foi vítima de furto, estimado em R$ 17 mil.
O Jornal da Paraíba preparou uma reportagem para explicar, com base nas investigações da polícia, como o pastor aplicava os golpes nos fiéis da igreja localizada no bairro de Mangabeira, na capital paraibana.
Como agia o pastor acusado de aplicar golpe
O suspeito agia de diversas formas, utilizando a condição de pastor e da confiança que os fiéis tinham nele. O golpe foi aplicado por meio de empréstimo de dinheiro em espécie, cartões com senha, cheques e notas promissórias. Até mesmo foram feitos financiamentos de veículos em nomes de fiéis. O valor que deveria ser pago mensalmente não era devolvido.
Sobre a dinâmica dos golpes, a delegada Andréa Melo, que foi responsável pelas investigações antes da conclusão do inquérito, disse que a condição de ser pastor foi primordial para conseguir a confiança dos fiéis.
“Ele pedia dinheiro emprestado de um pra pagar conta de outro. Ele era uma pessoa muito bem quista dentro da igreja, porque ele fazia muitas ‘obras sociais’, ele ajudava muito as pessoas, dava cestas básicas, pagava contas de luz, pagava cartão de crédito de uma pessoa que tava precisando, pagava conta de água, e com isso ele ia conquistando a confiança daquelas pessoas”, explica.
Essa “ajuda” fornecida pelo pastor acusado de aplicar golpe favorecia a imagem dele perante os fiéis e, posteriormente, os pedidos de favores financeiros aconteciam por parte do líder religioso.
“Ninguém podia dizer um não para ele, porque ele era uma pessoa extremamente querida e respeitada dentro da comunidade. Então ele chegava chorando para as pessoas, dizendo que estava precisando daquele dinheiro, que não tinha conseguido arrecadar o dinheiro da parcela da casa que a igreja havia comprado e pedia o valor ao fiel, que emprestava”, ressaltou.
A polícia conseguiu informações de que durante anos o pastor tinha esse tipo de atuação em relação aos fiéis, mas desde o começo de 2023 o homem não conseguiu mais pagar algumas contas feitas com os dados das vítimas e isso se tornou uma bola de neve.
“Durante anos ele utilizou vários cartões de crédito de fiéis, que ele realmente tinha a posse dos cartões, a senha, e ele passava o cartão e pagava, mas nesse pedido constante as coisas começaram a desandar. Do final de 2022 para o começo desse ano, ele começou a atrasar alguns pagamentos e isso se tornou uma bola de neve, com juros de cartão de crédito e juros de empréstimo”, disse.
Em um vídeo veiculado nas redes sociais, feito pelo pastor acusado de aplicar golpe e pela esposa conhecida como Vânia, durante o período em que estava foragido da Justiça após o pedido de prisão ter sido decretado, Péricles Cardoso afirmou que realmente utilizava os cartões das vítimas.
“Eu fiz algumas coisas na igreja. Reformas, trabalhos, salas, auditórios e salas de músicas. Alguns irmãos emprestaram cartões e eu fui pagando. Tem cartões que há mais de um ano eu venho comprando e pagando nas datas certas, até antes”, disse.
A esposa do pastor Péricles, que também teve prisão decretada, e precisaria comparecer a audiência de instrução, está foragida.
Abordagem do pastor
Em entrevista para a TV Cabo Branco, uma pessoa que preferiu não se identificar relatou como era a forma de abordagem do pastor acusado de aplicar golpe em relação aos fiéis.
“No começo achei estranho, porque ele chegou com uma maquineta, e aí disse ‘você passa o cartão aqui’, a gente saca o valor e com esse valor vamos comprando material de construção, pagando a mão de obra, e as coisas iriam acontecer”, disse.
A vítima disse que viu algumas reformas acontecerem, mas começou a desconfiar que se tratava de um golpe quando, após pedir o cartão do fiel emprestado, o pastor atrasou o pagamento pela primeira vez.
“Eu perguntei o que aconteceu, o pastor disse que ‘houve um problema na maquineta, um problema com o banco, que não estou conseguindo sacar o dinheiro’, algo mais ou menos nesse sentido. Eu achei estranho, mas ele era uma pessoa tão amigável. Ele começou a chorar dizendo que não queria sujar meu nome”, relata.
A vítima também ressaltou que o pastor chegou a abordar até pessoas mais “desafortunadas financeiramente” para que elas também dessem dinheiro. Além disso, com todos os cartões somados após os golpes do pastor, dívidas na casa de R$ 90 mil foram feitas apenas no nome dessa vítima.
“Quando somou-se todos os cartões, era aproximadamente R$ 90 mil. Hoje, por conta dos juros, está em torno de R$ 140 mil a dívida”, disse.
O Jornal da Paraíba procurou a defesa de Péricles Cardoso de Melo, pastor acusado de aplicar golpe, que informou que só vai se manifestar após a audiência de instrução.
Jornal da Paraíba