General ameaçou Bolsonaro de prisão se avançasse com plano golpista, diz ex-comandante da Aeronáutica

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Em seu depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior relatou que o ex-chefe do Exército, o general Freire Gomes, chegou a ameaçar Jair Bolsonaro de prisão, caso o então presidente prosseguisse com o plano de golpe de Estado.

O tenente-brigadeiro declarou que, “em uma das reuniões dos Comandantes das Forças com o então presidente da República, após o segundo turno das eleições, depois de o Presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou Estado de Defesa ou Estado de Sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”.

Baptista Junior diz que ele e o general Freire Gomes tentaram demover Bolsonaro de usar qualquer instituto jurídico para se manter no poder e evitar a posse de Lula. Disse ainda que a postura do general Freire Gomes foi determinante para que a minuta golpista não fosse adiante e que, se o ex-comandante do Exército tivesse concordado, “possivelmente a tentativa de golpe teria se consumado”.

Declarações do general

As declarações convergem com o depoimento prestado pelo ex-comandante do Exército, o general Freire Gomes, à PF.

Baptista detalhou aos investigadores uma reunião realizada no dia 1o de novembro de 2022 no Palácio da Alvorada. No encontro, Bolsonaro perguntou ao advogado-geral da União, Bruno Bianco, “se haveria algum ato que se poderia fazer contra o resultado das eleições”. Bianco teria respondido que o pleito transcorreu de “forma legal, dentro dos aspectos jurídicos”.

O ex-comandante da Aeronáutica afirmou que esteve em reuniões no Alvorada “em mais de cinco ou seis vezes” e que algumas eram convocadas “sem ata e de forma imediata” por Bolsonaro, via o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.

Baptista Junior afirmou que, em uma das reuniões, “deixou evidente a Jair Bolsonaro que não haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer após o término do mandato” e que “não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional”. O brigadeiro relata que, apesar dele e de Freire Gomes se colocarem contra o golpe, o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, disse à Bolsonaro que “colocaria suas tropas à disposição”.

O brigadeiro conta que, “inicialmente”, Bolsonaro parecia estar “resignado” com o resultado das eleições, mas que, após ter acesso ao estudo do Instituto Voto Legal, que questionou a lisura do pleito, o ex-presidente “apresentou esperança em converter o resultado”.

Baptista Junior disse à PF, assim como Freire Gomes, que o responsável por assessorar Bolsonaro sobre medidas jurídicas que abririam espaço para o golpe foi o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Segundo o brigadeiro, Torres chegou a participar de uma reunião na qual os comandantes das Forças Armadas estavam presentes.

O ex-chefe da Aeronáutica detalhou ainda outra reunião que teve, com os demais comandantes das Forças, junto ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, sem a presença de Bolsonaro. No encontro, Nogueira disse que teria uma minuta e que gostaria de apresentá-la aos presentes. O chefe da Aeronáutica questionou: “Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?”. Segundo Baptista Junior, o ministro da Defesa ficou calado e ele e Freire Gomes não concordaram em analisar o conteúdo da minuta.

Baptista Junior relatou que, durante um evento da Força Aérea Brasileira (FAB) em 16 de dezembro de 2022, no interior de São Paulo, chegou a dizer ao então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno, que a Aeronáutica “não anuiria com qualquer movimento de ruptura democrática”. Solicitou que Heleno reafirmasse a mensagem a Bolsonaro. O brigadeiro conta que então ministro do GSI ficou “atônito e desconversou sobre outro assunto”.

O brigadeiro conta que, após se negar a embarcar na tentativa de golpe, passou a receber ataques nas redes sociais e a ser chamado de “traidor da pátria” e “melancia”.

Com O Globo

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