Publicada no fim da noite de domingo, 14, a primeira entrevista do ex-presidente americano Donald Trump após sofrer uma tentativa de assassinato dois dias antes, durante um comício na cidade de Butler, Pensilvânia, mostrou um homem agradecido por estar vivo, mas também desafiador. Ao jornal americano The New York Post, ele afirmou que a experiência o motivou a querer “tentar unir o país”, o que avaliou ser difícil porque “as pessoas estão muito divididas”. O antigo líder dos Estados Unidos também afirmou que o médico que o atendeu chamou de “milagre” o fato dele estar vivo.
“O médico do hospital disse que nunca viu nada parecido, ele chamou de milagre”, afirmou ele durante a entrevista a bordo de seu avião particular a caminho de Milwaukee, para a Convenção Nacional do Partido Republicano – evento que deve confirmá-lo oficialmente como candidato da sigla. “Eu não deveria estar aqui, deveria estar morto”.
Ele acrescentou que não teria sobrevivido caso não tivesse virado a cabeça ligeiramente para a direita para ler um gráfico com dados sobre imigração ilegal. Naquele instante, o que poderia ter sido um tiro fatal perfurou a parte superior de sua orelha e respingou sangue em sua testa e bochecha. O ferimento foi leve o suficiente, segundo o ex-presidente, para que ele quisesse continuar o comício, mas os agentes do Serviço Secreto – que ele elogiou, apesar de terem chegado três segundos atrasados – insistiram que o local não era seguro e que ele precisava ir ao hospital. Trump também esclareceu o mistério sobre seus sapatos, que saíram de seus pés após os agentes se lançarem contra seu corpo para protegê-lo.
“Por sorte ou por Deus, muitas pessoas estão dizendo que é por Deus que ainda estou aqui”, disse ele, acrescentando que o médico que o atendeu supostamente disse que nunca havia visto um sobrevivente de um tiro com rifle AR-15.
Segundo o Post, Trump usava uma grande bandagem branca e solta que cobria sua orelha direita, e sua equipe insistiu que nenhuma foto fosse tirada. Ele também exibiu um grande hematoma no antebraço direito.
Um novo homem?
O senador da Carolina do Sul, o republicano Lindsey Graham, também estava no avião particular de Trump, ainda de acordo com o Post, e passou grande parte do voo conversando com o ex-presidente. A reportagem do jornal americano relatou que Graham achou seu otimismo “inacreditável”. “Ele sente que tem uma nova vida”, disse ele.
Trump também afirmou que a experiência o fez jogar fora o discurso que havia preparado para fazer na Convenção Nacional do Partido Republicano nesta quinta-feira, 18. Segundo ele, a fala era “extremamente dura, muito boa, sobre a administração corrupta e horrível” do atual chefe da Casa Branca, Joe Biden. Mas contou ao Post que agora estava redigindo uma nova versão porque “quero tentar unir nosso país” – embora tenha concedido que a tarefa não seria fácil.
“Não sei se isso é possível. As pessoas estão muito divididas”, afirmou, explicando que as diferenças políticas são o obstáculo. “Algumas pessoas querem fronteiras abertas, outras não. Alguns querem que os homens possam jogar em equipes esportivas femininas, e outros não.”
Sobre Biden, ele disse que gostou do telefonema que recebeu no domingo 14 do presidente, chamando-o de “bom”. Biden foi “muito legal”, elogiou, sugerindo, sem dar detalhes, que a campanha entre eles poderia ser mais civilizada a partir de agora.
O ex-presidente americano também disse que “ouviu” que Biden ordenará ao Departamento de Justiça que retire os dois processos contra ele. Até agora, porém, não há nenhum sinal disso.
Sejam essas ou não as verdadeiras intenções de Trump, tudo indica que o atentado pode produzir o efeito contrário, adicionando tensão à corrida eleitoral e acirrando a polarização entre democratas e republicanos. Já surgiram teorias da conspiração afirmando que o episódio foi armado para aumentar a popularidade de Trump, enquanto críticos que não acreditam nas conspirações alertam, mesmo assim, contra o uso político do atentado pela campanha trumpista.
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