A nova versão da reforma tributária divulgada nesta segunda (9) permite a devolução dos novos tributos para pessoas do Cadastro Único do governo federal sobre serviços de telecomunicações, a inclusão de armas e plásticos no Imposto Seletivo e tributação ainda menor para o setor imobiliário. Veja as principais mudanças.
O relator no Senado do principal projeto de lei de regulamentação da reforma tributária (PLP 68/2024), senador Eduardo Braga (MDB-AM), divulgou seu relatório nesta segunda-feira (9) com uma nova versão do texto. Ele acatou, parcial ou integralmente, 645 emendas das quase 2.000 sugestões apresentadas pelos senadores para mudar o texto aprovado na Câmara.
Braga inclui armas e munições, salvo se destinadas às Forças Armadas ou aos órgãos de segurança pública, no Imposto Seletivo, destinado a produtos que causam danos à saúde ou ao meio ambiente. O objetivo é manter a tributação atual, que já é mais elevada em relação à maioria dos produtos nacionais. O texto anterior poderia reduzir a carga sobre armas dos atuais 75% no Rio de Janeiro e 63% em São Paulo para menos de 30%.
A avaliação do governo é que essa tributação deve passar no Senado, mas há chances de ser derrubada na Câmara, que também precisa analisar a mudança.
Itens plásticos descartáveis de uso único, como sacolas, talheres, canudos, copos, pratos e bandejas de isopor foram considerados “extremamente prejudiciais ao meio ambiente” e incluídos na base do imposto.
Também estão no Imposto Seletivo veículos, embarcações e aeronaves, fumo, bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas, bens minerais e concursos de prognósticos (inclusive bets) e fantasy sport.
Ele também fez várias mudanças na regra específica do setor de imóveis, ampliando de 40% para 50% o percentual de redução dos novos tributos na alienação (de 60% para 70% na locação).
Para locações, só haverá cobrança nos casos de número mínimo de três imóveis alugados e receita de pelo menos R$ 240 mil anuais. Para alienações, somente se houver a venda de mais de três operações no ano calendário a pessoa será enquadrada como contribuinte.
O relator também trocou a lista de medicamentos com alíquota zerada dos impostos para o que definiu como “linhas de cuidados”. Isso significa que a desoneração valerá para grupos de medicamentos destinados a determinadas doenças.
Com a mudança, ficam isentos medicamentos utilizados em tratamentos oncológicos, doenças raras, DST/AIDS, doenças negligenciadas, vacinas e soros. Caberá ao Congresso Nacional revisar periodicamente as linhas de cuidados e não uma lista pré-definida de medicamentos.
Foram feitos pequenos ajustes na lista de alimentos da cesta básica que, segundo o Ministério da Fazenda, não terão impacto na alíquota dos novos tributos. A proposta mantém as carnes e outras proteínas animais na cesta e inclui na lista a tapioca, que antes era contemplada com redução de 60% na alíquota.
Houve ampliação da lista de insumos agropecuários com direito à redução de alíquota, especialmente os relacionados aos serviços nessa atividade.
Na alíquota reduzida em 60% para educação, entraram atividades complementares, como cursos de línguas estrangeiras, treinamentos e serviços de educação cultural, desportiva e recreacional.
O relator também incluiu no texto trechos do segundo projeto de regulamentação que tratam do Comitê Gestor formado por estados e municípios, que será instituído até 31 de dezembro de 2025.
“Todas as mudanças feitas pelo Senado significam 0,13% de impacto”, disse o relator em relação à alíquota geral dos novos tributos. A lei coloca um limite de 26,5% para a soma da contribuição federal e do imposto de estados e municípios, mas o texto que saiu da Câmara já levava a uma carga de 27,97%, segundo estimativa do Ministério da Fazenda. Na média, a tributação do consumo fica próxima de 20%.
Braga fará a leitura do relatório na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) a partir das 16h. Após a leitura, os senadores que compõem a comissão terão 48 horas para fazer sugestões de mudanças.
A previsão é de votação na CCJ na quarta-feira (11), durante a reunião semanal da comissão, agendada para as 10h. Caso o colegiado aprove o parecer de Braga, o projeto pode ser colocado em votação no plenário do Senado no mesmo dia, mas há possibilidade de os senadores concluírem a votação no dia seguinte.
O PLP 68 chegou ao Senado em agosto, após aprovação na Câmara dos Deputados, que dará a palavra final após a análise dos senadores.
O governo e o Congresso devem acelerar a conclusão das votações até o recesso parlamentar, marcado para começar em 21 de dezembro. Depois, o projeto irá para sanção do presidente Lula.
A reforma começa a ser implementada em 2026, com prazo de transição até 2032 para os futuros tributos sobre consumo CBS e IBS, que vão substituir ISS, ICMS, IPI, PIS e Cofins.